30 de novembro de 2009

Feira do Montado



Estive este sábado na Feira do Montado, em Portel. Em primeiro lugar uma nota positiva pelo nome do evento, que já vai na décima edição. Em vez de Feira de Portel ou ExpoPortel, chama a atenção não para a localidade mas sim para o vasto ecossistema onde se insere, conferindo-lhe o destaque mais que merecido.

Para além de saborear os sabores regionais e adquirir queijos e doçaria directamente aos produtores, conversando um pouco com eles, há sempre oportunidade para assistir a um colóquio relacionado com temática do evento. Para esta tarde, estava agendada a mesa-redonda «Do sobreiro à cortiça – Biodiversidade – Tradição e Inovação». Sem saber muito bem o que esperar, talvez um pouco mais de conversa sobre o declínio do montado ou as crescentes dificuldades económicas do sector, veio a revelar-se o mais interessante colóquio a que assisti nos últimos tempos. Três jovens oradores, com entusiasmo e discurso cativante, demonstraram o que se faz e pode vir ainda a ser melhorado na valorização da cortiça e do montado.

O Dr. Nuno Oliveira, fundador e director da empresa AmBioDiv – Valor Natural, traçou um quadro muito completo sobre a multifuncionalidade do montado, destacando os valores naturais, desde as orquídeas às aves, muitas vezes subvalorizados mas com enorme potencialidade no domínio do business & biodiversity. É fundamental que os subericultores e agricultores em geral procurem conhecer e compreender o sistema na sua globalidade e saibam valorizar o riquíssimo património silvestre que existe nas suas explorações.

Seguiu-se a intervenção do Eng. Pedro Borges Ferreira, centrada na petição disponível aqui, "Vinho com Informação é Opção". É uma ideia simples, muitas vezes falada mas sempre aguardando que “alguém”, normalmente do Governo ou da Assembleia da República tome a iniciativa. Neste caso foi Pedro Borges a dar o primeiro passo: criar uma petição para que passe a ser indicado na cápsula ou rotulagem das garrafas de vinho o tipo de vedante utilizado. Todos nós quando compramos uma garrafa, não sabemos se debaixo da cápsula se esconde uma genuína rolha de cortiça, cuja comercialização viabiliza economicamente a manutenção dos montados de sobro, ou um pedaço de material sintético sem qualquer valência ambiental e não biodegradável. Esperamos que em breve a nossa opção no supermercado ou loja da especialidade não se restrinja apenas a preferências por determinada adega ou casta, mas que os produtores sejam recompensados por investirem na rolhagem com cortiça num mercado cada vez mais esclarecido e exigente.

Para terminar este painel, a Dra. Sandra Correia relatou-nos o facto de há uns anos ter na fábrica da família uma grande quantidade de cortiça de primeira qualidade com dificuldade de escoamento. Surgiu então a ideia de criar um guarda-chuva com essa matéria, nascendo assim a primeira peça em pele de cortiça. Com apenas 9 anos de existência, a empresa Pelcor tem já disponível uma enorme variedade de produtos com elevado valor acrescentado e crescente mercado para exportação. É sem dúvida um excelente exemplo da necessidade de inovação e criatividade, quando tanto se fala em perda de competitividade da nossa indústria.

Após um enriquecedor debate com o público, decorreu a  atribuição do prémio Corticeira Amorim 2009 à Herdade da Machoqueira do Grou, tendo sido feito pelo administrador da Corticeira Amorim um longo retrato da exploração, destacando-se a gestão dos matos por corte com correntes em detrimento de gradagens, da manutenção da vegetação espontânea ao longo das linhas de água e da restrição de acesso do gado a charcas com maior valor ambiental, como exemplos da integração de boas práticas ambientais na actividade económica.

Entre a assistência, dominou a presença dos membros da Confraria do Sobreiro e da Cortiça, que estão de parabéns por terem proporcionado uma excelente tarde de reflexão e de esperança para o futuro do montado na região.

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