27 de maio de 2010

Salvamento de ninhos de águia-caçadeira na ZPE de Castro Verde

A Zona de Protecção Especial (ZPE) de Castro Verde, criada em 1999 e posteriormente alargada em 2008, é a área estepária mais representativa de Portugal, com 85.345 ha de área total e cerca de 60.000 ha de pseudo-estepe.

Tem elevada importância no contexto nacional para a conservação da avifauna estepária, com destaque para a abetarda Otis tarda e para o francelho Falco naumanni, sendo o local mais importante no país para estas duas espécies. É também a principal área de reprodução do rolieiro Coracias garrulus em Portugal e aqui ocorrem as maiores densidades nacionais de machos reprodutores de sisão Tetrax tetrax.

Outras aves estepárias encontram aqui um dos seus principais redutos, sendo o caso da águia-caçadeira Circus pygargus, do cortiçol-de-barriga-preta Pterocles orientalis, da calhandra-real Melanocorypha calandra e do alcaravão Burhinus oedicnemus.

Rolieiro Coracias garrulus


Colónia de cegonha-branca Ciconia ciconia e garça-boieira Bubulcus ibis

Os últimos dois dias foram dedicados à localização e protecção de ninhos de águia-caçadeira por convite do ICNB, na pessoa do Pedro Rocha, director-adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas - Sul.


Por uma questão de prioridade, a prospecção de potenciais locais de nidificação foi concentrada nas parcelas com pasto ou aveia que estão a ser fenadas.
Sempre que possível, foram questionados tractoristas e agricultores sobre a presença de ninhos. É notório o conhecimento sobre as espécies e a consciência da necessidade de evitar a sua destruição pela maquinaria agrícola.
Numa exploração agrícola, o proprietário sublinhou o cuidado que teve em localizar um ninho de abetarda antes de iniciar a fenagem e preservar esse local. Igualmente, o tractorista referiu a não destruição de dois ninhos de pato-real.

Ninho de pato-real preservado durante o corte do feno

Apesar das cautelas manifestadas, o corte da vegetação nesta época tem um elevado impacte sobre as espécies nidificantes no solo. É necessário um trabalho permanente de prospecção das áreas de nidificação de águia-caçadeira e de outras espécies prioritárias, com localização dos ninhos e respectiva sinalização antes de iniciada a fenagem ou a ceifa.


Na ausência de censos dedicados a esta espécie, a população de águia-caçadeira reprodutora na ZPE de Castro Verde está estimada em 50-100 casais, desde 2003. Ao longo destes dois dias foram percorridos os principais locais da sua ocorrência, tendo sido observados poucos indivíduos, pelo que o número de pares reprodutores presentemente pode ser inferior a 50.
Nos últimos anos, verificou-se a diminuição de explorações agrícolas integradas no Plano Zonal de Castro Verde, pelo que diminuiram igualmente as áreas com restrições de data de ínicio da ceifa. Na ausência de acções de larga escala dirigidas à protecção dos ninhos, não foi possível à águia-caçadeira apresentar a evolução demográfica positiva registada para outras aves estepárias no interior desta ZPE.

Por indicação de um tractorista, foi localizado um ninho numa parcela já fenada, que cinco dias antes continha quatro ovos. Apesar da quase inexistência de vegetação envolvente, a fêmea continuou a incubação durante as actividades de reviramento do feno e de enfardamento.
Quando chegámos ao local, já tinham entretanto eclodido dois juvenis. A escassa vegetação envolvente iria conferir pouco ensombramento aos juvenis durante os próximos 30-35 dias, até estes alcançarem a capacidade de voo, além de ficarem extremamente vulneráveis aos predadores.

Optou-se pela colocação de uma rede metálica com 6 metros de perímetro e 1 metro de altura, suportada por barras de ferro. Este método tem demonstrado eficácia na protecção contra predadores e é de baixo custo (cerca de 20 euros), com a vantagem dos materiais poderem ser reutilizados nos anos seguintes.
Também se colocaram alguns restos de vegetação, para melhorar o ensobramento no local e reduzir a exposição da fêmea.

O vigilante da natureza Fernando Romba junto ao ninho de águia-caçadeira.


Os dois juvenis recentemente eclodidos


Instalação da vedação.


Ninho protegido, tendo sido adicionada alguma palha no seu interior.

Aguarda-se que idênticas intervenções venham a ter lugar durante as próximas semanas, quando se iniciar a ceifa da aveia e de outros cereais praganosos.

24 de maio de 2010

Saída de campo na planície de Évora - 4

Hoje os alunos das turmas das turmas 3ºC e 4ºA, acompanhados pelas professoras Cândida, Isolinda, Helina e Tatiana da Escola Básica Integrada da Malagueira partiram para o campo à descoberta da águia-caçadeira. Apenas houve oportunidade para uma observação fugaz de um macho e uma fêmea dessa espécie, mas o avistamento de outras espécies permitiu preencher o registo de observações no caderno campo.
A constante correria de quase 50 alunos não proporcionou as melhores condições para uma observação ornitológica, mas o interesse e o entusiasmo foram uma constante nesta manhã.


A descoberta pelos alunos do verdadeiro aspecto da aveia antes de transformada industrialmente em bolachas ou flocos de cereais.

Debulha manual da aveia, seguida de degustação do grão.


Localização de um ninho de pato-real, destruído durante o corte do feno.


Restos da ave e dos ovos, comprovativos do conflito entre cortes precoces da vegetação e o período de nidificação.

Um dos inúmeros andorinhões-pretos Apus apus observados esta manhã.


Milhafre-preto Milvus migrans 


Turma 3ºC


Turma 4ºA

23 de maio de 2010

Exposição "Aves estepárias"

No Espaço Ambiente (Jardim Público de Évora, junto à rua do Raimundo) encontra-se aberta ao público a exposição sobre aves estepárias do Alentejo.
É constituída por seis réplicas de aves executadas em papel por alunas da Universidade Sénior de Campo Maior no âmbito do Projecto Saberes e Ambiente.

Fica o convite para apreciar estes trabalhos e conhecer um pouco melhor algumas das espécies mais representativas da avifauna do Alentejo.


Alcaravão Burhinus oedicnemus


Rolieiro Coracias garrulus


Águia-caçadeira Circus pygargus


Abetarda Otis tarda


Cortiçol-de-barriga-preta Pterocles orientalis


Sisão Tetrax tetrax

20 de maio de 2010

Saída de campo na planície de Évora - 3

Hoje decorreu a saída de campo à herdade da Chaminé, na planície de Évora, com os alunos das turmas 3ºA e 4ºB, acompanhados pelas professoras Conceição Lopes, Delfina David e outras docentes da Escola Básica Integrada da Malagueira.
Não foi fácil responder às constantes solicitações e perguntas de 48 jovens, desejosos de finalmente poderem observar a ave que há varios meses andam a estudar, bem como obterem a confirmação da identificação de gralhas-pretas, cegonhas-brancas, trigueirões e andorinhas-das-chaminés. Até o avistamento de um avião imediatamente suscitava a dúvida "professor, que ave é aquela?".
Uma tarde soalheira, a colaboração dos tractoristas e a presença de 3 casais de águia-caçadeira numa parcela agrícola próxima permitiu concretizar uma boa aula de campo.

A chegada à herdade.

Aveia Avena sativa e joio Lollium temulentum.

 
Observação das actividades agrícolas.

 
Os alunos tomando a iniciativa de conversar com o tractorista.


O sr. Hugo com o folheto sobre a protecção da águia-caçadeira.

 
Intensa utilização dos binóculos e telescópios emprestados pela LPN e pelo CEAI, num espaço bem mais amplo que a sala na escola.


Nessa tarde, o trabalho de recolha dos fardos foi acompanhado por dezenas de observadores. Fica o agradecimento à paciência e à simpatia dos tractoristas.


Uma pausa para o lanche em plena estepe cerealífera.


Um macho de águia-caçadeira em voo de caça sobre o feno recentemente cortado.

Agricultura e aves estepárias


A primeira parte do programa Biosfera do dia 19 é dedicada à Zona de Protecção Especial de Castro Verde e ao trabalho desenvolvido pela LPN junto dos agricultores.

São elencadas as principais ameaças para as aves dependentes dos sistemas agrícolas de sequeiro e descritas as estratégias para a sua minimização. Para além da referência a técnicas de melhoramento e de conservação do solo, o ecoturismo baseado na observação de aves tem o merecido destaque como dinamizador económico para a região.

18 de maio de 2010

Conferência "Biodiversidade"


Ciclo de Conferências "Ano Internacional da Biodiversidade"
Conferência "Biodiversidade"

Local: Auditório da Universidade de Évora
Data: 19 de Maio de 2010
Organização: Cátedra Rui Nabeiro – Biodiversidade e CIBIO_UE
Apoio: Departamento de Biologia e Ordem dos Biólogos
ENTRADA LIVRE

Programa

9.00 Sessão de Abertura
Com a presença do Magnifico Reitor da Universidade de Évora e Representante da Delta Cafés

Moderador: Miguel Araújo (Cátedra Rui Nabeiro/CIBIO) e Rui Lourenço (CEAI)
Painel: O Passado
9.30 Sobre as origens da vida. Jorge Araújo (Dep. Biologia)
Painel: As contas da biodiversidade - Na terra
10.00 As Aves: a Biodiversidade mais perto do céu. João E. Rabaça (Dep. Biologia/ICAAM )
10.30 Mamíferos de Portugal . Acerto de contas por adições e subtracções. António Mira (Dep. Biologia/ICAAM)
11.00 Pausa para Café
11.30 Répteis e Anfíbios de Portugal. Pedro Segurado (ISA/Cátedra Rui Nabeiro )
12.00 Flora de Portugal. Carlos Pinto Gomes (Dep. PAO/ICAAM).
Painel: As contas da biodiversidade - Na Água
12.30 Fauna Piscícola. Pedro Raposo (Dep. Biologia/Centro de Oceanografia)
13.00 A Biodiversidade marinha e o «Hot spot» entre-marés João Castro e Teresa Cruz -(Dep. Biologia/CIEMAR/Centro de Oceonografia)
13.30 Almoço

Moderador: Paulo Pinto (Director do Dep. Biologia) e Pedro Rocha (LPN)
Painel: Ameaças à biodiversidade
15.00 Ameaças à biodiversidade na Floresta. Manuel Mota (Dep. Biologia/ICAAM)
15.30 Espécies invasoras. Pedro Anastácio (Dep. PAO/IMAR- Centro de mar e Ambiente)
16.00 Pausa para café
17.00 Estaremos perante a sexta extinção em massa? Miguel Araújo (Cátedra Rui Nabeiro/CIBIO)
17.30 Biodiversidade de Angola. Diogo Figueiredo (Dep. Biologia/Cátedra Rui Nabeiro)

12 de maio de 2010

Trabalhos realizados pelos alunos - Escola Básica da Malagueira

As turmas 3ºC e 4ºC da Escola Básica Integrada da Malagueira estão neste momento em intensa actividade de produção de trabalhos relativos à águia-caçadeira: textos, desenhos, cartazes, apresentações em Powerpoint, etc.

Um desses trabalhos é o cartaz apelando aos agricultores para a colaborarem na protecção dos ninhos, não esquecendo o facto da alimentação desta ave incluir animais que, quando em excesso, podem ser prejudiciais às culturas agrícolas.
É sem dúvida notável o empenho destes alunos na conservação de uma espécie em perigo de extinção em Portugal e a compreensão sobre a necessidade de envolver outros elementos da comunidade.

 
Aqui ficam outros exemplos da dedicação destes jovens investigadores:







10 de maio de 2010

Escola Básica da Graça do Divor

Na Escola Básica da Graça do Divor, foi realizada hoje a última sessão de divulgação do projecto “À descoberta da águia-caçadeira”.


Perante uma assembleia bastante heterogénea – 24 alunos do 1º ao 4º ano de escolaridade, duas professoras e uma encarregada de educação – foram apresentados os temas das rotas migratórias, selecção do local de nidificação, alimentação e salvamento dos ninhos durante a ceifa. Os alunos participaram de forma entusiasta, colocando dúvidas e dando opiniões, muitos deles surpreendidos por haver pessoas que se dedicam à protecção dos animais silvestres, quando geralmente o contacto com a Natureza se resume a acompanhar os pais durante as caçadas.

Mostrar a ilustração de uma raposa ou a fotografia de uma cobra suscita a reacção imediata de um ou outro aluno no desejo de matar esse animal. Mas perante uma explicação simples da função de cada um desses animais no equilíbrio dos ecossistemas, também rapidamente compreendem essa nova perspectiva.

Ficou uma vez mais demonstrada a necessidade de uma intervenção continuada para a Educação Ambiental, algo que tem sido esquecido nos últimos anos em Portugal. Não basta distribuir computadores aos alunos e equipar as escolas com meios tecnológicos, sendo igualmente necessário consagrar verbas no orçamento do Ministério da Educação para apoio a actividades de descoberta e divulgação do património cultural e natural do mundo rural, para que os jovens aprendam a valorizar o espaço onde estão integrados.

Saída de campo na planície de Évora - 2

No dia 7, alunos das turmas 7ºA e 8ºB da Escola Secundária André de Gouveia realizaram a saída de campo do projecto "À descoberta da águia-caçadeira", acompanhados pelas professoras Maria João Félix, Luísa Campeão e Conceição Camacho.
Uma vez mais o transporte foi assegurado pela Câmara Municipal de Évora e o material óptico foi cedido pela LPN-Alentejo e pelo CEAI.


Para apoio científico e pedagógico a este numeroso grupo de 40 participantes, esteve connosco o professor Carlos Miguel Cruz da LPN/CCDRA.


Na herdade da Chaminé, estava nesse momento a decorrer o corte em verde de uma seara de aveia, na parcela onde tem sido observado com regularidade um casal de águia-caçadeira.


Os alunos e professoras tiveram a oportunidade de assistir ao trabalho de corte, enquanto observavam atentamente o voo das aves que permitisse localizar um eventual ninho nesta parcela agrícola.
Mas durante esse período não foi possivel confirmar a existência de qualquer ninho, embora tivesse sido observado o macho em voo de caça.


Na carrinha da LPN foram transportadas estacas de madeira e uma rede metálica para vedar o local do ninho caso ele fosse localizado. Essa rede iria diminuir o risco de predação por carnívoros.


Enquanto os alunos do 7º ano escutavam as explicações sobre a águia-caçadeira e a gestão respectivo habitat, foram surpreendidos pelos movimentos de uma pequena cobra. Com é natural nestas circunstâncias, a primeira reacção foi de medo. Felizmente, o professor Carlos pegou nela - uma cobra-de-capuz juvenil - e houve oportunidade para uma explicação sobre as suas características e o facto de ser inofensiva para nós.

A desconfiança e o receio inicial ...


... seguindo-se a curiosidade e o interesse em tocar.


Cobra-de-capuz Macroprotodon cucullatus

A cobra-de-capuz tem uma área de distribuição muito restrita (Sul da Península Ibérica, ilhas Baleares e Norte de África), sendo uma espécie com hábitos crepusculares ou nocturnos e muito difícil de observar. Depois de fotografada e tocada pelos alunos, foi libertada na orla de uma parcela agrícola adjacente.

Durante esta saída de campo e apesar da dimensão do grupo não ser a mais favorável para a observação de aves, foi possível registar no caderno de campo a presença de águia-caçadeira, cegonha-branca, garça-boieira, milhafre-preto, peneireiro-vulgar, pega-rabuda, andorinhão-comum, andorinha-das-cahminés, entre outras espécies.


Aprenderam igualmente a distinguir as plantas de aveia e de cevada, bem como conhecer a sua utilização na alimentação humana e animal.


Os alunos da turma 7ºA com a professora Luísa Campeão


As professoras Maria João Félix e Conceição Camacho com os alunos da turma do 8ºB