14 de junho de 2012

Terras sem sombra


  

O Alentejo folheia um novo capítulo na sua vida artística, cultural e religiosa. O Festival Terras Sem Sombra de Música Sacra, o mais destacado do género em Portugal, está de regresso com um cartaz transversal no campo das artes, da cultura e da biodiversidade. Fundado em 2003, este projecto cedo cativou a atenção internacional pela notoriedade do seu programa, contribuindo para trazer nova vida ao Alentejo com a força criativa e o talento luminoso de compositores, intérpretes e artistas de reconhecimento internacional.
Assistir aos espectáculos e demais actividades do Festival é realizar uma itinerância, de periodicidade quinzenal, pelas Igrejas Históricas da Diocese de Beja, numa (re)visita ao coração das tradições alentejanas e às profundas raízes históricas de monumentos que, pela mão do Prof. Paolo Pinamonti, se transformam em santuários de eleição para fruir um repertório musical ecuménico.
Esta iniciativa é fruto dos esforços do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, da Pedra Angular – Associação dos Amigos do Património da Diocese de Beja, do Turismo do Alentejo, do Teatro Nacional de São Carlos, dos Municípios, das Misericórdias e, ainda, de empresas e famílias da região que vêm no Festival um pretexto para expandir as fronteiras do Alentejo e ir ao encontro de novos públicos.
A 8.ª edição do Festival Terras Sem Sombra abrange concertos, conferências temáticas, visitas guiadas e acções de cunho pedagógico direccionadas para as artes e para a cultura. Sem nunca perder de vista o quotidiano alentejano e as suas problemáticas contemporâneas, o FTSS assegura ainda um espaço de actividades paralelas – sob o mote da salvaguarda da Biodiversidade – destinadas a cimentar a consciência ambiental.
O FTSS não existe por si só: vive do contributo da sociedade civil, das instituições, das comunidades locais, dos artistas e técnicos ligados às causas da música, do património histórico e artístico e da conservação da natureza e de todos os voluntários associados à produção do projecto, reunindo sinergias que permitem novas formas de ver, ouvir e, sobretudo, de sentir o Alentejo em comunhão com o que ele tem de mais belo e de mais profundo para oferecer.

No passado dia 10 de Junho, a jornada de campo dedicada à biodiversidade regional decorreu na Herdade da Apariça, próxima de Beja.
Aos participantes foi proporcionada a observação de aves estepárias, nomeadamente abetarda e águia-caçadeira e a participação activa na construção de uma passagem para abetardas numa vedação e a sinalização da mesma para reduzir o risco de colisão com o arame farpado. Foram também colocadas duas caixa-ninho para francelho numa antiga habitação, agora em ruínas, que alberga outros casais desta espécie.

Observação de aves

O programador deste festival, Paolo Pinamonti (de chapéu), a acompanhar a abertura de passagem para jovens abetardas não voadoras

 O actor Luís Miguel Cintra a preparar a colocação de uma placa sinalizadora na vedação 

Colocação de uma placa por Amalio de Marichalar, presidente do Foro Soria 21 - Desenvolvimento Sustentável e impulsionador do Fórum Mundial da Água Lisboa 21, que irá decorrer em Outubro

Vedação sinalizada para redução do risco de colisão por aves

24 de maio de 2012

Há dois anos...

... 240 alunos realizaram trabalhos na sala de aula e participaram numa saída de campo para observação de águias-caçadeiras.
Para quem duvida que os jovens "de agora" não têm memória, fica aqui a prova em contrário: ontem recebi por e-mail uma mensagem do Vasco Rato que foi aluno do 4º ano na Escola Básica da Malagueira, recordando a visita a uma herdade para observação dessas aves e anexando o trabalho então produzido.

http://pt.scribd.com/doc/94730414

Afinal esse projecto valeu a pena.
Vasco, o meu obrigado pela tua lembrança.

18 de setembro de 2010

XI Congresso do Grupo Ibérico de Aguiluchos


O Grupo Ibérico de Aguiluchos (GIA), formado em 1991, é um grupo informal de trabalho que reúne (muitos) investigadores espanhóis e (alguns) portugueses dedicados ao estudo e à conservação das três espécies de aves do género Circus que ocorrem na Península Ibérica: a águia-caçadeira/aguilucho cenizo C. pygargus, o tartaranhão-cinzento/aguilucho palido C. cyaneus e a águia-sapeira/aguilucho lagunero C. aeruginosus.


Os congressos com periodicidade bienal permitem a partilha de experiências e comparação de resultados. Têm por principal objectivo analisar dinâmicas populacionais, informações sobre a biologia e a ecologia de cada uma dessas espécies e identificar ameaças. As conclusões permitem definir orientações de gestão territorial, visando a conservação das espécies e respectivos habitats. 

As anteriores sessões tiveram lugar nas seguintes localidades:
1991 - Hervás
1992 - Burriana
1994 - Orrellana la Vieja
1996 - Tudela
1998 - Évora
2000 - Alquezar
2002 - Sevilla.
2004 - Madrid.
2006 - Castuera
2008 – El Bonillo

Este ano, coube à Sociedade Galega de Ornitoloxía a realização do décimo primeiro congresso, que irá decorrer em Allariz, próximo de Ourense, entre 15 e 17 de Outubro.

Com o prazo de envio de resumos até ao dia 11 de Outubro, aguarda-se que diversos investigadores portugueses consigam estar presentes.
A ficha de inscrição, formas de pagamento e outras informações estão disponíveis aqui.

4 de setembro de 2010

Protecção de ninhos em Ostfriesland (Alemanha)

A protecção de ninhos de águia-caçadeira contra a acção de predadores merece também a atenção de investigadores na Frísia Oriental (Ostfriesland).



Entre 2003 e 2006 foram utilizadas cercas eléctricas, nem sempre com sucesso. Após ensaios em 2007, passaram a ser colocadas redes metálicas, que têm as seguintes vantagens comparativas:

- São de instalação mais rápida e não estão sujeitas a falhas de equipamento fornecedor de energia (baterias ou painéis solares);

- São facilmente aceites pelos agricultores, pois não obrigam ao corte da vegetação;

- São mais económicas.

 A instalação destas redes antes da ceifa reduz o risco de predação do ninho por raposas e outros mamíferos. No caso de existirem javalis na zona, devem ser colocadas redes com uma armação metálica.


A dimensão de 2 x 2 metros revelou-se adequada para proporcionar espaço suficiente durante o crescimento de 4 ou mais juvenis.
Segundo Rolf Baum, este método pode constituir uma alternativa à manutenção de um área de protecção com 50 x 50 metros em redor de cada ninho, que obriga a procedimentos burocráticos por parte dos agricultores e a intervenções nessas áreas após o voo dos juvenis.
Estas acções de protecção dos ninhos são financiadas por entidades públicas, empresas e donativos privados.

1 de setembro de 2010

Protecção da águia-caçadeira em Rheiderland (Alemanha)



À semelhança do que foi anteriormente descrito para a região de Castro Verde, na Alemanha são igualmente realizadas acções de salvamento de ninhos de águia-caçadeira.
Neste caso, trata-se de uma iniciativa da associação de agricultores local ("Landwirtschaftliche Naturverein Rheiderländer Marsch") que solicitam a colaboração de biólogos - no vídeo surge o doutor Ben Koks, da Holanda, a efectuar os registos de biometria dos juvenis. É instalada uma cerca eléctrica que delimita uma área de 10 por 10 metros, para redução do risco de predação.

Tal como no caso português, as orientações para a conservação da vida silvestre associada aos sistemas agrícolas por vezes geraram conflitos entre a administração pública e agricultores. Porém, uma maior consciência da importância da agricultura sustentável aos olhos da sociedade, levou a que um grupo de agricultores se organizasse em 2003, de forma a serem eles próprios os promotores de acções de valorização da biodiversidade. Mais importante que ter apenas que corresponder a obrigações de protecção da natureza ou discutir essas medidas unicamente sob o ponto de vista monetário, é vantajoso que sejam os próprios a participar na melhor gestão dos espaços agrícolas, estabelecendo parcerias entre as empresas agrícolas e outras entidades. 
Trata-se sem dúvida de um excelente exemplo a seguir.

31 de agosto de 2010

Resultados da protecção de ninhos em Castro Verde

Terminada a época de reprodução, é possível avaliar o sucesso das acções de salvamento de ninhos na ZPE de Castro Verde.
Foram colocadas redes em 4 ninhos, tendo em 3 deles sido produzidos juvenis voadores. O outro ninho localizava-se muito próximo de uma estrada e quando foi colocada a rede apenas continha um juvenil com idade inferior a 5 dias, pelo que a previsão de sucesso reprodutor desde logo foi considerada baixa.
Um dos ninhos com sucesso reprodutor foi localizado poucas horas após a passagem da ceifeira debulhadora e continha 3 ovos. Considerando que se estava a 23 de Junho, provavelmente tratava-se de uma postura tardia ou então de uma segunda postura, após predação ou destruição da primeira.

Ninho com vedação em rede

Conteúdo do ninho: 3 ovos, no dia 23.6.10


O mesmo ninho no dia 14.7.10
 
Dois juvenis com idade compreendida entre 15 e 20 dias


Outros 4 ninhos localizados pelos operadores das ceifeiras debulhadoras mas onde não foi possível colocar de imediato redes de protecção, quando foram inspeccionados 8 ou 10 dias depois, encontravam-se predados provavelmente por aves ou mamíferos carnívoros.

Local de ninho onde foi mantida a vegetação envolvente, mas já sem vestígios de ovos ou de juvenis. 23.6.10

Restos de um juvenil de águia-caçadeira predado por mamífero carnívoro, possivelmente raposa. 14.7.10

Ainda que partam de uma amostra reduzida, estes resultados revelam que a colocação de redes não gera perturbação que cause o abandono do ninho por parte das aves adultas e reduz, de forma significativa, o risco de predação de ovos e de juvenis.

8 de agosto de 2010

In memoriam Elias Ribeiro Candeias


Contagem de grous - depósito de água do posto fronteiriço de S. Leonardo (Mourão), em 1992

Esta madrugada deixámos de contar com a presença do Elias Candeias. Foi com ele que muitos de nós começámos a aprender a observar aves, a desatascar o jipe e a apreciar um chá ao final da tarde, enquanto escutávamos aventuras com búfalos, elefantes e povos indígenas de um passado não muito distante em Angola.
Foi graças ao Elias que se realizaram diversos censos de grous, de abetardas, de cegonhas-brancas e de colónias de garças no Alentejo. Em 2004, tive o prazer da sua companhia, apesar de convalescente de uma intervenção cirúrgica, para levar a bom termo o censo da cegonha-branca no concelho de Évora.
Ficará para sempre na nossa memória este homem que marcou muitos jovens pela sua paciência, generosidade e determinação numa época em que observar e estudar as aves era algo ainda raro em Portugal.
Até sempre, Elias.


Na sequência do comentário de Duarte Quintas, aqui está uma foto com o célebre UMM. Já não me recordo quando foi tirada, mas também não tem mal porque as nossas memórias são intemporais.

28 de julho de 2010

Uma explicação



Para quem tem visitado este blogue e verificado que há um mês para cá está tudo na mesma, aqui fica a explicação: a escrita da tese de doutoramento tem absorvido quase todas as horas do dia... e da noite.
Parafraseando uma justificação para falhas técnicas na RTP de antigamente, peço desculpa pela interrupção, volto dentro de momentos.

28 de junho de 2010

Regresso ao ninho de coruja-das-torres


O ninho de coruja-das-torres em Starr Ranch Sanctuary, no estado da Califórnia (EUA), tem uma nova geração de crias. Após um mês de incubação de quatro ovos, os juvenis eclodiram entre os dias 21 e 28 deste mês. Recorda-se que da primeira ninhada de sete juvenis conseguiram voar cinco.
Atendendo à diferença horária entre Portugal e a Califórnia, recomenda-se o visionamento desta webcam entre as seis da manhã e o meio-dia em Portugal, no período em que é possível assistir à entrega de presas pelo macho e à alimentação dos juvenis.

24 de junho de 2010

O Bailado das Aves


Neste céu cinzento,
Que me envolve
Vejo as aves que planam.

Elas rodopiam,
Sobem,
Descem,
Como num louco carrossel

Em bandos
De ondas,
Num vai e vem, constante
Elas correm...
Como um corcel.

E eu, parado
Olho, observo...
Com o meu olhar de vazio.

E elas, enamoradas
Em duetos, desejados
Escrevem no ar
Passos de dança
Orquestrados...
Em valsas,
Em tangos,
Ou outras danças de voltear

Elas passeiam-se no ar
Perdidas, em abraços
De tanto namorar.

E eu perdido, neste jardim
Já nem me encontro,
Em mim,
De tanto ficar tonto
Destes voares loucos
Que se desprendem de mim.
Em pequenos sonos
De loucos sonhos
Onde passo, tantas vezes
Por ti...