31 de outubro de 2009

Fotografias


O fotógrafo e designer espanhol Javier Milla autorizou a utilização neste blogue das suas belíssimas fotografias de Águia-caçadeira.
Para além do agradecimento, fica o convite para visitar a sua página http://www.javiermilla.es/, que também inclui uma detalhada descrição de metodologia para fotografar aves silvestres.

Alguns nomes comuns europeus



Ao se realizar pesquisa de informação ou de fotografias na Internet, para além do nome científico Circus pygargus, com carácter universal, é sempre favorável conhecer o seu nome vulgar em algumas línguas europeias.

29 de outubro de 2009

Uma questão de nome


Águia-caçadeira? Tartaranhão-caçador?

O nosso nome permite distinguir-nos entre os restantes indivíduos da sociedade, conferindo um carácter identitário em princípio único.
O nome comum da maioria das aves não costuma gerar risco de confusão ou de dúvida na generalidade dos países europeus, principalmente naqueles com maior tradição de literatura sobre a natureza, quer por meio de contos infantis quer através de publicações de grande difusão. Em Portugal, em consequência da baixa literacia da generalidade da população e da escassez de publicações sobre vida silvestre até anos muito recentes, o conhecimento do nome vernáculo de animais e plantas esteve quase sempre circunscrito à transmissão oral, podendo variar bastante entre regiões para uma mesma espécie ou atribuindo-se o mesmo nome a diversas espécies.

Ao conversar com pastores ou agricultores, verifica-se que para algumas espécies a identificação é fácil, em especial as cinegéticas ou aves como Abetarda, o Sisão ou a Cegonha-branca. Porém, para as aves de rapina subsiste ainda alguma confusão na designação das diferentes espécies ou mesmo na sua correcta identificação.
Num questionário realizado em 2005 junto de agricultores do Alentejo, pediu-se para indicarem o nome pelo qual conheciam a espécie Circus pygargus, tendo surgido vinte e oito diferentes respostas, sendo as mais frequentes: águia caçadeira, tartaranhão caçador, peneireiro, gavião, águia, águia caçadora e milhafre.

Quando, há quase 30 anos comecei a observar aves (e não existam guias de identificação em português), adoptei o nome comum Águia-caçadeira por ser aquele que era utilizado no Alentejo. Mais tarde, em comunicações e artigos passei a empregar a denominação Tartaranhão-caçador por ser a que constava na sistematização adoptada por Sacarrão & Soares (1979) Nomes Portugueses para as Aves da Europa, trabalho este de referência a nível nacional, mas também por ser tecnicamente mais correcta porque as aves do género Circus estão filogeneticamente afastadas das verdadeiras águias.
Durante o trabalho de campo para a dissertação de mestrado, iniciado em 1997, eu era conhecido como o “homem das águias” e não como o “homem dos tartaranhões” e a palavra tartaranhão é mais difícil de utilizar em vez de águia numa conversa fluente com um operador da ceifeira-debulhadora para evitar a destruição de ninhos. Assim, quase sempre no terreno servia-me do nome Águia-caçadeira.
Com a publicação de Nomes Portugueses das Aves do Paleártico Ocidental por Hélder Costa e outros em 2000, é proposta a denominação Águia-caçadeira como a mais correcta.
Nos últimos anos, ambos os nomes comuns surgem em publicações oficiais, trabalhos académicos ou relatórios de avaliação de impacte ambiental. Mas caminha-se para alguma uniformização e sou da opinião que deve prevalecer o nome pelo qual é mais reconhecida no Alentejo, onde se concentra a maioria da população reprodutora em território nacional.
Fica assim explicado o título deste blogue.

24 de outubro de 2009

Primeiras chuvas

Seara de aveia em fase de emergência

Após um início de Outubro quente e seco, as primeiras chuvas permitiram iniciar a sementeira das culturas cerealíferas de Outono/Inverno. Mas este ano agrícola continuará a ser uma incógnita quanto ao futuro para os cereais de sequeiro no Alentejo e no resto do país.
Segundo as associações de agricultores, em 2008 os custos médios de produção por hectare de seara de trigo eram de 695€. Com preços de comercialização a 200€ a tonelada, era suficiente uma produtividade de 3,5 toneladas por hectare para a cultura ser economicamente viável, mas com a descida para 130€ seriam necessárias produtividades de 4,6 toneladas, algo apenas possível nos melhores solos e em condições meteorológicas muito favoráveis.
As previsões do INE de Julho deste ano, apontavam para diminuição de produção, face ao ano anterior, de 40% no trigo mole e 35% na aveia, decorrente de elevada precipitação que determinou a diminuição da área semeada, seguida de uma Primavera pouco pluviosa durante as fases de floração e de formação do grão, levando muitos produtores a fenarem ou a pastorear directamente as searas – o que foi desfavorável para a águia-caçadeira, por estas actividades coincidirem com o início do período de reprodução.
São vez mais frequentes os agricultores a declarar que produzir cereais de sequeiro significa perder dinheiro e que apenas o fazem porque têm gado.
A estagnação dos preços de comercialização, a previsão de subida dos produtos petrolíferos, as incertezas relacionadas com alterações climáticas e a opinião desfavorável dos dirigentes do Ministério da Agricultura para com o sector dos cereais, associada à não concretização de políticas de conservação da vida silvestre em meio agrícola, em nada concorrem para uma estabilização das áreas a semear com cereais neste Outono, comparativamente com os anos anteriores.

19 de outubro de 2009

Projecto "À descoberta da Águia-caçadeira"


Desde há muito que defendo uma maior interacção entre as escolas e a comunidade. Finalmente, tenho oportunidade para desenvolver um projecto no domínio da Educação Ambiental centrado na divulgação da águia-caçadeira junto de alunos e professores, assim como de agricultores e da sociedade em geral, com início no presente ano lectivo de 2009/2010.
A partir da Escola Secundária André de Gouveia, em Évora, onde sou professor, será coordenada a pesquisa sobre esta ave e a produção de conteúdos que promovam:


a) O desenvolvimento de atitudes de cidadania na análise de problemas locais e na participação activa para a sua resolução;

b) A melhoria significativa na ligação dos conteúdos curriculares no domínio do Estudo do Meio e das Ciências Físico Naturais com casos concretos de conservação de espécies silvestres autóctones e de gestão de habitats;

c) A planificação e concretização de trabalhos de projecto, visando o aperfeiçoamento por parte dos alunos na selecção de informação, sua análise e comunicação de resultados.

Sobretudo, propõe-se que os trabalhos produzidos pelos alunos e professores não fiquem “escondidos” na sala de aula ou no interior do espaço da escola mas que os jovens desenvolvam competências em Tecnologias de Informação e Comunicação que facilitem a partilha de conteúdos através da internet.
Com um âmbito geográfico preferencialmente dirigido aos concelhos de Évora e de Castro Verde, escolas com ensino básico de outros concelhos do Alentejo estão igualmente convidadas a participar.

15 de outubro de 2009

O ninho da águia



Depois, resolutamente, dirigi-me à azinheira. Lá estava o ninho, era enorme e construído sobre três pernadas robustas – Como sobre os três dentes de uma forquilha. Eu nunca vira coisa igual, a falar sinceramente. Tinha o feitio oval de um berço e ficava tão alto, tão alto que fazia vertigens. Era preciso subir até lá. Atirei a laçada à primeira bifurcação do tronco, icei-me.”


O ninho da águia (1881)
Contos – Fialho de Almeida


Tal como o escritor Fialho de Almeida, geralmente associamos os ninhos das águias a altas e frondosas árvores ou a escarpadas falésias. Mas a águia-caçadeira constrói sempre o ninho no solo, dissimulado entre vegetação herbácea ou arbustiva.
Ao seleccionar espaços pouco ou nada arborizados para a reprodução e alimentação, diminui a competição com outras aves de presa. Mas se esses locais são simultaneamente utilizados para a agricultura, os ninhos ficam susceptíveis de destruição durante o corte dos fenos ou a ceifa dos cereais.
É neste delicado equilíbrio entre a preservação de uma espécie silvestre e a manutenção de determinadas práticas agrícolas que devemos encontrar uma conciliação.

Ainda que não sejam conhecidos registos que permitam determinar a dinâmica populacional ao longo do último século, em particular no Alentejo, certamente que a sua abundância está correlacionada com a dimensão das áreas semeadas com cereais em sistema de rotação, alternado com pousios.
Profundas alterações nos agro-sistemas, através da conversão de extensas áreas de sequeiro em regadio ou olival intensivo, produzirão certamente consequências na população de águia-caçadeira que importa avaliar.