15 de outubro de 2009

O ninho da águia



Depois, resolutamente, dirigi-me à azinheira. Lá estava o ninho, era enorme e construído sobre três pernadas robustas – Como sobre os três dentes de uma forquilha. Eu nunca vira coisa igual, a falar sinceramente. Tinha o feitio oval de um berço e ficava tão alto, tão alto que fazia vertigens. Era preciso subir até lá. Atirei a laçada à primeira bifurcação do tronco, icei-me.”


O ninho da águia (1881)
Contos – Fialho de Almeida


Tal como o escritor Fialho de Almeida, geralmente associamos os ninhos das águias a altas e frondosas árvores ou a escarpadas falésias. Mas a águia-caçadeira constrói sempre o ninho no solo, dissimulado entre vegetação herbácea ou arbustiva.
Ao seleccionar espaços pouco ou nada arborizados para a reprodução e alimentação, diminui a competição com outras aves de presa. Mas se esses locais são simultaneamente utilizados para a agricultura, os ninhos ficam susceptíveis de destruição durante o corte dos fenos ou a ceifa dos cereais.
É neste delicado equilíbrio entre a preservação de uma espécie silvestre e a manutenção de determinadas práticas agrícolas que devemos encontrar uma conciliação.

Ainda que não sejam conhecidos registos que permitam determinar a dinâmica populacional ao longo do último século, em particular no Alentejo, certamente que a sua abundância está correlacionada com a dimensão das áreas semeadas com cereais em sistema de rotação, alternado com pousios.
Profundas alterações nos agro-sistemas, através da conversão de extensas áreas de sequeiro em regadio ou olival intensivo, produzirão certamente consequências na população de águia-caçadeira que importa avaliar.

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