29 de dezembro de 2009

Noites de anfíbios

As últimas noites, muito húmidas e com temperaturas superiores a 10 graus, proporcionaram excelentes condições para encontros imediatos com anfíbios. Muitas estradas do Alentejo, se percorridas vagarosamente e com cuidado para evitar atropelar estas pequenas criaturas, permitem-nos ter consciência da elevada biodiversidade existente nesta região.

Numa única noite chuvosa, na estrada que atravessa a Herdade da Mitra da Universidade e que, mais à frente, liga as aldeias de Valverde a Guadalupe, por entre montados de azinho e próxima de linhas de água, foi possível observar cinco espécies, sendo particularmente numerosas as salamandras e os sapos-corredores.

Salamandra-de-pintas-amarelas Salamandra salamandra


Sapo-corredor Bufo calamita


Sapo-corredor Bufo calamita


Rela-meridional Hyla meridionalis

Numa outra estrada, entre Torre de Coelheiros e S. Manços, ladeada por searas e pastagens, o número de indivíduos observados foi bastante inferior e faltando a salamandra-de-pintas-amarelas e a rela-meridional. Em compensação, diversas rãs-verdes saltitaram à frente dos faróis do automóvel. Neste local de solos mais arenosos, os sapos-de-unha-negra também marcaram presença.

Rã-verde Rana perezi


Sapo-de-unha-negra Pelobates cultripes

Em ambas as estradas foi observada a rã-de-focinho-pontiagudo. Trata-se de uma espécie endémica da metade oeste da Península Ibérica, cujas principais ameaças estão associadas à degradação do habitat e à predação de ovos e girinos pelo exótico lagostim-vermelho do Louisiana.

Rã-de-focinho-pontiagudo Discoglossus galganoi


Para a maioria destas espécies, as zonas encharcadas dos campos agícolas constituem importantes áreas de reprodução. Esses charcos temporários são utilizados para as posturas e para o desenvolvimento dos girinos, sendo importante a sua preservação evitando-se a drenagem, o atravessamento por maquinaria agrícola ou a pulverização com fitofármacos. Os herbicidas com glifosato, associados à sementeira directa, são particularmente nefastos para a fauna aquática, incluindo os girinos.

Será bom que os agricultores passem a considerar como micro-reservas para anfíbios as “poças de água” que se formam nos mesmos locais ano após ano. Sabendo de antemão que não vale a pena semear ou pulverizar essas pequenas áreas onde as culturas morrem por asfixia radicular com as primeiras chuvas, podem assumir voluntariamente esse contributo para a preservação da biodiversidade na sua exploração, sem qualquer custo económico.

6 comentários:

Mónica disse...

Só é pena que os agricultores não pensem assim (aliás, muitas vezes parecem nem pensar de todo).
Ontem fiz um percurso semelhante numa estrada do Alentejo e encontrei dois sapos de unha negra bastante jovens concerteza porque têm cerca de 5cm apenas. Encontrámos também um ouriço-cacheiro, são bastante pacatos até, mas um tanto ou quanto mal cheirosos. Como pode alguém caçar ou magoar propositadamente estes animais? :(
Começei nestas andanças á relativamente pouco tempo mas pretendo continuar, é incrivel a quantidade de animais que se encontra e dos quais há registos fotográficos verdadeiramente mediocres. E quem sabe se um destes dias encontramos uma espécie nova? :)

João Carlos Claro disse...

Mónica

Relativamente à atitude dos agricultores perante os anfíbios e outras espécies que ocorrem nos campos agrícolas tenho encontrado de tudo um pouco. É importante não esquecer que a maioria não teve aulas de ecologia, onde a biodiversidade tem um peso crescente nos últimos anos e só recentemente é valorizada.
Igualmente, uma seara com papoilas e malmequeres, ao olhos de um visitante do espaço rural é algo belo e merecedor de ser fotografado, mas para um agricultor representa uma falha na aplicação de herbicidas no controlo de infestantes da cultura.

É sobretudo importante valorizar social e economicamente as explorações agrícolas e respectivas produções que realmente integrem a preservação da fauna e flora, mesmo espécies "inúteis". Isto já está a acontecer e temos que esperar alguns anos até que seja um facto comum.

Mónica disse...

Olá. Não pretendo criticar os agricultores de todo, aliás o problema não são só os agricultores. O problema é a mentalidade em geral. Caçadores, pescadores, apoiantes das touradas, jovens condutores... a lista prolonga-se.
Há quem não tenha conhecimento (eu própria não estudei muito) e há quem tenha uma espécie de raiva com tudo o que é ser vivo. Falta de conhecimento é uma coisa, ruindade é outra. A maior parte das pessoas que conheço acha estranhíssimo o facto de eu levar animais para casa para fotografar e os devolva ao sítio exacto no dia seguinte, por exemplo. E há quem não se importe de atropelar um animal de estimação e nem se digne a parar para ver se o animal está vivo e pode ser salvo. Acho que se faz um grande trabalho hoje em dia que é começar de pequeno, na escola e até no infantário a mobilizar os futuros adultos e a tentar contrariar esta tendência.

Mudando de tema: penso ter fotografado uma águia de asa redonda perto de Montemor-o-Novo, é possível?
A foto não está muito boa porque tinha pouca luz e ela voava muito alto, mas posso enviar-lhe a foto para verificar.
Talvez seja mais fácil por mail, se quiser fica o meu contacto:

monicaquendera@gmail.com

Cumprimentos.

Magpie disse...

Boa noite! ontem ( dia 9 Dezembro 2010) fui fazer um passeio noturno pela mata de Gambelas ( Ludo, Algarve)com um amigo meu, onde recolhemos 10 anfíbios e avistámos muitos outros. Recolhemos 2 Rana perezi, e 4 bufo calamita iguais ao da segunda foto e 1 outro igual ao da foto de cima. Recolhemos ainda 3 outros sapos que são bastante semelhantes á rã verde em morfologia, mas de cor acastanhada / amarelada.
Observámos ainda um ou dois sapo de unha negra, mas sem duvida os Bufo calamita iguais ao da segunda foto eram os mais comuns ( tínhamos que ter cuidado com os pés para não os pisar xD)

Tenho então duas questões:

1 - Qual é a diferença entre bufo calamita da foto 1 e da foto 2 ? É um dimorfismo sexual? sub-especies diferentes?

2 - Alguma ideia de qual poderia ser a espécie castanha que ainda não consegui identificar? Recordam-se de registos semelhantes anteriormente?

Muito obrigada e um resto de boa noite ^^

João Carlos Claro disse...

Cara Magpie

Não sendo um especialista na matéria mas apenas um simples observador da extraordinária diversidade que (ainda) existe em algumas áreas rurais, creio que podem ocorrer grandes variações de coloração no sapo-corredor, sem necessariamente estar ligadas a dimorfismo sexual. Apenas o facto do indivíduo 1 ser muito jovem e de o 2 ter uma dimensão de adulto.

Quanto à sua segunda questão e sem querer dar uma resposta errada, já observei indivíduos da mesma espécie mais acastanhados e outros mais esverdeados.

Votos de bons passeios,
João

Magpie disse...

Caro João Carlos,

Muito obrigada pela resposta! entretanto encontrei as minhas respostas numa aula de Biologia de Vertebrados e após muita pesquisa.

A 1ª imagem do Bufo Calamita está bem identificada, a segunda não tenho a certeza, devido á luz da fotografia, mas nunca vi um assim, só na internet mesmo. Um dos sapos que observei ( o + fofinho deles todos) era desta espécie.

Os supostos 4 bufos calamita que classifiquei são na verdade Pelobates cultripes. A imagem classificada como Pelobates cultripes acho que está bem classificada, embora so tenha visto individuos semelhantes na internet. visto o individuo ser tão diferente dos cerca de 10 indivuos que eu observei, tive dificuldade em perceber que se tratavam da mesma espécie. Consegui identificar os que observei através de um livro que o meu professor me emprestou na aula. Alem disso encontrei as unhas negras que os caracterizam =)

Classifiquei 5 (agora 7, encontrei mais dois =D) como rãs verdes, e nada do que pesquisei referia qualquer tipo de dimorfismo sexual, pelo que penso que verdes e castanhas são tão semelhantes quanto raprigas loiras e ruivas. xD

Assim, contagem final dos 10 anfibios iniciais:

- 4 Pelobates cultripes
- 1 Bufo calamita
- 5 Rana Perezi

Sinceros agradecimentos pela ajuda,

Magpie