5 de maio de 2010

Saída de campo na planície de Évora - 1

No passado dia 3, alunos da turma 8ºA e a professora Marta Beirão da Escola Secundária André de Gouveia e os alunos surdos do 1º ciclo, acompanhados pela professora Maria Leonor Parra e pela professora de língua gestual Mara Jorge da Escola Básica Integrada da Malagueira, visitaram a herdade da Negaça. À nossa espera estava o seu proprietário, António Correia Pires, o que permitiu uma interessante conversa sobre o passado e o presente da agricultura regional.

Trata-se de um local regularmente escolhido pela águia-caçadeira para alimentação e nidificação. Mas, para tristeza de muitos dos entusiasmados alunos, não foi possível observar qualquer exemplar dessa espécie.
Entre 2002 e 2005 foi registada nidificação de 7 a 9 casais de águia-caçadeira nesta herdade e noutra contígua. No ano passado apenas esteve presente um casal e este ano nenhum.

Uma imagem do passado: casal de águia-caçadeira.
Herdade da Negaça, 18.5.2009

A seca de 2005, que causou um elevado insucesso reprodutor, e a substituição do cultivo de trigo por aveia que determina maior precocidade na ceifa e consequente aumento do risco de destruição de ninhos, são factores prováveis para o desaparecimento local desta espécie. Caso ocorra a perda de posturas em anos sucessivos, as aves adultas abandonam as áreas onde habitualmente nidificavam.
Estes jovens alunos puderam assim tomar consciência do significado de estarem a realizar trabalho de investigação sobre uma espécie em perigo de extinção, pois o proprietário relatou observações num passado recente de numerosas águias-caçadeiras na sua herdade.

O uso do solo mantém-se extensivo, com criação de bovinos e cultivo de cereais de Outono-Inverno, alternando com pousios. Os sistemas de rega existentes são utilizados em caso de períodos secos na Primavera. Porém, esta herdade está integrada no bloco de rega do Monte Novo, pelo que a manutenção do sistema actual depende unicamente da vontade do agricultor. Caso exista vantagem económica, nada impede a instalação de olival intensivo, vinha ou outra cultura permanente desfavorável para as aves estepárias.

Ao longo de mais de uma hora, os alunos e professoras tiveram a possibilidade de observar diversas espécies de aves (cegonha-branca, garça-boieira, pato-real, andorinha-das-chaminés, pardal-comum, trigueirão, …) bem como identificar e recolher exemplares para constituição de um herbário de diversas plantas espontâneas e cultivadas.


Igualmente puderam assistir à actividade do corte do ferrejo – mistura de aveia, triticale e cevada - destinado à alimentação do gado.


A acompanhar esta visita esteve o Carlos Miguel Cruz, da Liga para a Protecção da Natureza. Os binóculos e telescópios foram cedidos pela LPN e pelo CEAI - Centro de Estudos da Avifauna Ibérica e o transporte até à herdade foi realizado pela Câmara Municipal de Évora, cuja colaboração agradecemos.

Foto de grupo: professora Marta Beirão e cinco alunos da ESAG, professoras Mara Jorge e Leonor Parra com os seis alunos da Escola da Malagueira, Sr. António Pires e o autor deste blogue.

3 comentários:

Fernando Encarnação disse...

Viva João.

Quero deixar uma palavra de apreço pelo contributo e educação dos mais novos, é de facto uma boa pratica de sensibilização, como descreveu no meu blog sobre o "PARA, ESCUTE e OLHE"

"Também partilho a memória de ter percorrido essa linha entre a foz do Tua até Bragança. A minha filha apenas conseguiu chegar a Mirandela e os meus netos apenas ouvirão contar histórias sobre uma linha desaparecida.", da maneira como estamos a tratar tudo e todos, essas crianças poderão reservar essa experiência para um dia mais tarde recordarem, cabe a cada um de nós partilhar a sensibilidade, a partilha e a educação ambiental.

Os meus parabéns.

Fernando Encarnação

João Carlos Claro disse...

Caro Fernando
Obrigado pelas suas palavras. Há mais de 20 anos que faço o que muitos dos comentadores no seu blogue criticam como incapacidade de diversos sectores da administração pública: percorrer o terreno, conversar com as pessoas (desde o pastor ao empresário agrícola), aprender com elas e compreender os problemas e criticar atitudes quando for o caso.

Infelizmente, muitas das políticas ambientais, agrícolas, sociais e económicas deste país são pensadas em gabinete e longínquas da realidade. Os nossos governantes dizem que percorrem o país, mas na realidade apenas vimos desfiles de automóveis topo de gama, programas protocolares apressados e palavras de circunstância em feiras de vaidade.

Felizmente ainda há pessoas a expressar o descontentamento pelo rumo que este país tomou e sem cruzar os braços.

Anónimo disse...

Bem haja as pessoas como o Sr Antonio pires que imponente a políticas e quaisquer entraves apoiam e facultam a entrada na sua casa para este tipo de iniciativas.