Tem elevada importância no contexto nacional para a conservação da avifauna estepária, com destaque para a abetarda Otis tarda e para o francelho Falco naumanni, sendo o local mais importante no país para estas duas espécies. É também a principal área de reprodução do rolieiro Coracias garrulus em Portugal e aqui ocorrem as maiores densidades nacionais de machos reprodutores de sisão Tetrax tetrax.
Outras aves estepárias encontram aqui um dos seus principais redutos, sendo o caso da águia-caçadeira Circus pygargus, do cortiçol-de-barriga-preta Pterocles orientalis, da calhandra-real Melanocorypha calandra e do alcaravão Burhinus oedicnemus.
Rolieiro Coracias garrulus
Colónia de cegonha-branca Ciconia ciconia e garça-boieira Bubulcus ibis
Os últimos dois dias foram dedicados à localização e protecção de ninhos de águia-caçadeira por convite do ICNB, na pessoa do Pedro Rocha, director-adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas - Sul.
Por uma questão de prioridade, a prospecção de potenciais locais de nidificação foi concentrada nas parcelas com pasto ou aveia que estão a ser fenadas.
Sempre que possível, foram questionados tractoristas e agricultores sobre a presença de ninhos. É notório o conhecimento sobre as espécies e a consciência da necessidade de evitar a sua destruição pela maquinaria agrícola.
Numa exploração agrícola, o proprietário sublinhou o cuidado que teve em localizar um ninho de abetarda antes de iniciar a fenagem e preservar esse local. Igualmente, o tractorista referiu a não destruição de dois ninhos de pato-real.
Ninho de pato-real preservado durante o corte do feno
Apesar das cautelas manifestadas, o corte da vegetação nesta época tem um elevado impacte sobre as espécies nidificantes no solo. É necessário um trabalho permanente de prospecção das áreas de nidificação de águia-caçadeira e de outras espécies prioritárias, com localização dos ninhos e respectiva sinalização antes de iniciada a fenagem ou a ceifa.
Na ausência de censos dedicados a esta espécie, a população de águia-caçadeira reprodutora na ZPE de Castro Verde está estimada em 50-100 casais, desde 2003. Ao longo destes dois dias foram percorridos os principais locais da sua ocorrência, tendo sido observados poucos indivíduos, pelo que o número de pares reprodutores presentemente pode ser inferior a 50.
Nos últimos anos, verificou-se a diminuição de explorações agrícolas integradas no Plano Zonal de Castro Verde, pelo que diminuiram igualmente as áreas com restrições de data de ínicio da ceifa. Na ausência de acções de larga escala dirigidas à protecção dos ninhos, não foi possível à águia-caçadeira apresentar a evolução demográfica positiva registada para outras aves estepárias no interior desta ZPE.
Por indicação de um tractorista, foi localizado um ninho numa parcela já fenada, que cinco dias antes continha quatro ovos. Apesar da quase inexistência de vegetação envolvente, a fêmea continuou a incubação durante as actividades de reviramento do feno e de enfardamento.
Quando chegámos ao local, já tinham entretanto eclodido dois juvenis. A escassa vegetação envolvente iria conferir pouco ensombramento aos juvenis durante os próximos 30-35 dias, até estes alcançarem a capacidade de voo, além de ficarem extremamente vulneráveis aos predadores.
Optou-se pela colocação de uma rede metálica com 6 metros de perímetro e 1 metro de altura, suportada por barras de ferro. Este método tem demonstrado eficácia na protecção contra predadores e é de baixo custo (cerca de 20 euros), com a vantagem dos materiais poderem ser reutilizados nos anos seguintes.
Também se colocaram alguns restos de vegetação, para melhorar o ensobramento no local e reduzir a exposição da fêmea.
O vigilante da natureza Fernando Romba junto ao ninho de águia-caçadeira.
Os dois juvenis recentemente eclodidos
Instalação da vedação.
Ninho protegido, tendo sido adicionada alguma palha no seu interior.
Aguarda-se que idênticas intervenções venham a ter lugar durante as próximas semanas, quando se iniciar a ceifa da aveia e de outros cereais praganosos.