8 de agosto de 2010

In memoriam Elias Ribeiro Candeias


Contagem de grous - depósito de água do posto fronteiriço de S. Leonardo (Mourão), em 1992

Esta madrugada deixámos de contar com a presença do Elias Candeias. Foi com ele que muitos de nós começámos a aprender a observar aves, a desatascar o jipe e a apreciar um chá ao final da tarde, enquanto escutávamos aventuras com búfalos, elefantes e povos indígenas de um passado não muito distante em Angola.
Foi graças ao Elias que se realizaram diversos censos de grous, de abetardas, de cegonhas-brancas e de colónias de garças no Alentejo. Em 2004, tive o prazer da sua companhia, apesar de convalescente de uma intervenção cirúrgica, para levar a bom termo o censo da cegonha-branca no concelho de Évora.
Ficará para sempre na nossa memória este homem que marcou muitos jovens pela sua paciência, generosidade e determinação numa época em que observar e estudar as aves era algo ainda raro em Portugal.
Até sempre, Elias.


Na sequência do comentário de Duarte Quintas, aqui está uma foto com o célebre UMM. Já não me recordo quando foi tirada, mas também não tem mal porque as nossas memórias são intemporais.

8 comentários:

Duarte Quintas disse...

Os episódios e as peripécias, os bons e os maus momentos – se é que os houve – para sempre os guardarei com a mais profunda saudade. Recordar é tudo o que nos resta agora. Lamento não mais poder ter a oportunidade de desatascar a sua 4L, nem de acompanha-lo em mais umas idas ao campo ou ouvir mais uma vez as suas histórias de África, que com tamanho agrado ouvi ao longo de 27 anos.

Não esquecerei jamais cada memória, cada instante... desde o dia em que ele me levou ao colo (eu ainda meio ensonado depois da sesta, ele todo radiante) para me mostrar o seu primeiro "UMM do serviço", até ao dia em que infelizmente ele nos deixou. Todas as memórias que guardo deste grande homem são recordações valiosíssimas, daquela que foi para mim, uma das pessoas mais marcantes da minha vida.
Estes anos de convívio passaram rápido de mais e como ele diria sempre que lhe surgia alguma contrariedade: “POSSA!...”

A ele o meu muito obrigado…

João Carlos Claro disse...

Duarte, obrigado pelo testemunho. De facto o Elias foi um Mestre para muitos de nós.

Duarte Quintas disse...

Caro João Carlos,

Eu é que tenho que lhe agradecer as fotos que aqui nos disponibilizou. Pelo menos a mim sensibilizaram-me bastante.

A primeira foto, porque foi precisamente em S. Leonardo que fizemos a última saída os dois, em 2008 e exactamente para ver os grous.

A segunda, porque me trouxe ainda mais recordações. Recordo-me bem de o Elias apelidar o UMM Cournil de "feioso"! Porém ele adorava-o.
Recordo-me também de eu ter os meus 3-4 anos e provavelmente nesse UMM ir sentado no banco da frente. Eis se não quando, ao passarmos por um buraco, eu dei uma valente cabeçada na barra horizontal do tablier.
São recordações que ficam e que nos marcam.

Por esse motivo, mais uma vez agradeço.
Desejo-lhe muito boa sorte para si e para o seu trabalho.
Um forte abraço

Duarte

Diogo Venade disse...

Recordo as inúmeras histórias contadas pelo Elias, que me fazia imaginar e invejar as vivências e encontros com as inúmeras "bestas" selvagens que naquela época proliferavam pelas savanas e matos Angolanos, encontros com Rinocerontes, Bufalos, os detestáveis Mabecos e Hienas....
As saidas pelo nosso Alentejo para descobrir um ninho de Águia-real, um bando de Abetardas em parada, ouvir pela primeira vez o "canto" dos Grous que anunciava a chegada do Inverno...
Para sempre lhe ficarei grato por me ter mostrado o patrimonio natural mais escondido e profundo deste nosso Alentejo.
Foi o mestre e estimulador desta geração de passareiros que surgiu em Évora e arredores.
Para sempre lhe ficarei grato

Diogo Venade

Diogo Venade disse...

Seria interessante que quem desejasse partilhar, com os amigos do Elias, imagens e histórias que os publicassem aqui. E assim recordar e conhecer novas peripécias...

João Carlos Claro disse...

Podem enviar as fotografias para o e-mail jcclaro@sapo.pt

Unknown disse...

Bom dia!
Penso que através do João Luís Almeida do antigo VCNP conseguimos fotografias de momentos extraordinários que passámos com Elias Candeias.
Tenho muitos "relatórios" de saídas de campo nos meus cadernos. Posso disponibilizar caso existam imagens.
Há muitos anos herdei todo o seu material de anilhagem (alicates, redes, anilhas…) que ainda utilizo actualmente. Sugiro uma sessão em Valverde, num destes fins de semana, que sirva de reunião para falarmos deste grande cromo pioneiro da ornitologia portuguesa.
Permitam-me que partilhe uma grande zanga que teve comigo quando me apanhou a estudar, algures nas margens do Guadiana agora submersas, para um exame de aferição de Biologia, enquanto intervalávamos as actividades de anilhagem de passeriformes. Tive boa nota, apesar do estudo ter acontecido no meio da confusão. Ao comunicar-lhe o resultado, descompôs-me na mesma pois alegou que se os estudos tivessem ocorrido em casa o resultado teria sido melhor. Exigente com tudo e com todos, Elias Candeias ensinou-me (ensinou-nos) a maioria dos caminhos rurais do Alentejo e arredores. Com o Elias iniciei as actividades de anilhagem no Moinho da Abóbada com a marcação de uma garça-imperial (A purpurea ). Grato Elias por me teres “pegado” este vício.

Duarte disse...

Caro kau,
O episódio que aqui nos relata era típico da maneira de ser do Elias. Por alguns incompreendido, por muitos - eu incluído - olhado com todo o respeito e fraternidade, pois ele era um bom homem. Uma pessoa sempre divertida, disposta a ajudar e a ensinar. Não era daquelas pessoas que, infelizmente proliferam hoje em dia, que tentam guardar/esconder o seu conhecimento. Ele era um livro aberto para quem quisesse aprender.
A sua sugestão da sessão em Valverde seria algo excepcional e gostaria imenso de participar. Porque não juntar o útil ao agradável e fazer-se uma saída de campo? Infelizmente com o desaparecimento do Elias deixei de ter companhia idónea nas minhas observações.

Para terminar outro deixo episódio que passei na companhia do Elias e que com saudade recordo: Terminada uma observação em S. Leonardo de Grous, vinha-mos nós a caminho de Évora e eu vinha a folhear um "guia de campo". O Elias começou então a teimar comigo que sabia o nome científico de todas as aves que o guia continha... Pensei que estava a ser sarcástico comigo. Após lhe perguntar o nome daquelas que julguei serem as mais difíceis/raras/escassas… congratulei-o! Não errou uma única.

Um grande abraço e continuamos a aguardar mais fotos para recordarmos o Elias.